* * * Eu * * *
Os dois personagens gêmeos / no espetáculo /
não são simplesmente dois sósias, são alguma coisa além.
O sósia é um segundo exemplar feito fisicamente e biologicamente em modo análogo ao primeiro.
Esta perfeita semelhança pode provocar na vida diversos efeitos:
Cômicos ou trágicos.
Na literatura do gênero fantástico pode conduzir a um tipo de plena integração biológica e espiritual / por exemplo, quando um morre, morre também o outro /.
Aqui, no espetáculo, este fenômeno assumiu uma forma extrema, que foge da lógica do raciocínio e da compreensão.
Uma recíproca perda de consciência do próprio ‘eu’.
Uma forma de puro agir cênico.
Quando estão juntos
um troca o outro por si mesmo.
Quando, ao contrário, estão sozinhos,
e sabem, por exemplo, que devem estar em um lugar e não em outro,
ficam surpresos pela própria ausência
e vão ao encontro de si mesmo.
Parece-me que esta manifestação, para além do bom senso,
constitui uma metáfora
e se refere à essência mais profunda da arte e da vida
... Vou a busca de mim mesmo! ...
Eu mesmo me acredito ‘o outro mim mesmo’:
a minha obra
a minha obra e eu.
Uma de frente ao outro!
É um tipo de loucura.
Neste momento tomo consciência de uma minha estranha propriedade / provavelmente não somente minha / na qual não prestava atenção e não podia disso tirar conclusões de ordem geral.
Na minha juventude, quando as minhas forças psíquicas interiores tinham ‘mobilidade’ bem maior e maior capacidade de ‘sair’ do âmbito da consciência do meu organismo - capacidade para ‘excursões’ ou viagens fora de si,
e capacidade de conjugar-me com fenômenos e sistemas fora de ‘mim’,
enquanto estava pintando um quadro,
depois de um certo tempo / e tratando-se frequentemente de muitas, muitas horas /
era como se desvanecesse, perdesse consciência do meu existir,
um tipo de desmaio, mas sempre lúcido.
Como se o quadro fosse eu mesmo.
Era uma sensação muito concreta / nenhuma poesia / ,
vagamente prazerosa / nenhum “encantamento”,
um tipo de ausência.
Escrevo tudo isto depois de ter criado uma situação cênica, depois de um ensaio com os atores.
16 abril 1985
Tadeusz Kantor
Os dois personagens gêmeos / no espetáculo /
não são simplesmente dois sósias, são alguma coisa além.
O sósia é um segundo exemplar feito fisicamente e biologicamente em modo análogo ao primeiro.
Esta perfeita semelhança pode provocar na vida diversos efeitos:
Cômicos ou trágicos.
Na literatura do gênero fantástico pode conduzir a um tipo de plena integração biológica e espiritual / por exemplo, quando um morre, morre também o outro /.
Aqui, no espetáculo, este fenômeno assumiu uma forma extrema, que foge da lógica do raciocínio e da compreensão.
Uma recíproca perda de consciência do próprio ‘eu’.
Uma forma de puro agir cênico.
Quando estão juntos
um troca o outro por si mesmo.
Quando, ao contrário, estão sozinhos,
e sabem, por exemplo, que devem estar em um lugar e não em outro,
ficam surpresos pela própria ausência
e vão ao encontro de si mesmo.
Parece-me que esta manifestação, para além do bom senso,
constitui uma metáfora
e se refere à essência mais profunda da arte e da vida
... Vou a busca de mim mesmo! ...
Eu mesmo me acredito ‘o outro mim mesmo’:
a minha obra
a minha obra e eu.
Uma de frente ao outro!
É um tipo de loucura.
Neste momento tomo consciência de uma minha estranha propriedade / provavelmente não somente minha / na qual não prestava atenção e não podia disso tirar conclusões de ordem geral.
Na minha juventude, quando as minhas forças psíquicas interiores tinham ‘mobilidade’ bem maior e maior capacidade de ‘sair’ do âmbito da consciência do meu organismo - capacidade para ‘excursões’ ou viagens fora de si,
e capacidade de conjugar-me com fenômenos e sistemas fora de ‘mim’,
enquanto estava pintando um quadro,
depois de um certo tempo / e tratando-se frequentemente de muitas, muitas horas /
era como se desvanecesse, perdesse consciência do meu existir,
um tipo de desmaio, mas sempre lúcido.
Como se o quadro fosse eu mesmo.
Era uma sensação muito concreta / nenhuma poesia / ,
vagamente prazerosa / nenhum “encantamento”,
um tipo de ausência.
Escrevo tudo isto depois de ter criado uma situação cênica, depois de um ensaio com os atores.
16 abril 1985
Tadeusz Kantor
* * * com influência de João de Ricardo (que amanhã vai fazer 30 anos.)
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