18 novembro 2007

= paradoxo do tempo = ou, quanto dura meu chiclete?

ser ou não ser ...




... descartável?



Esta, talvez, seja uma atualização possível do conflito imortalizado por Hamlet.
¨
Quanto tempo dura a mastigação de um chiclete até ele perder seu doce sabor e ganhar a lata de lixo ou o chão de alguma rua?
Sem sabor, ele perde a graça? ou continua sendo mastigando?
e no chão ou no lixo ele deixa de ser chiclete?
e se torna o que?
Isto me faz pensar, entre tantas coisas, no conflito do artista diante da validade de sua obra e seu poder de afetação.
Quanto pode durar um obra? e sua importância tem haver com esta duração?
Nas artes presenciais esta questão paradoxalmente se amplia em função da clara efemeridade do acontecimento, fator este que caracteriza a essência destas manifestações artísticas: o aqui e agora compartilhado entre os corpos.
como ser ou não ser descartável?
como não ser consumido, mascado e jogado fora?
a arte encarada como produto corre mais fortemente este risco do que a que tenta fugir desta cilada? até onde o artista e sua postura cotidiana influencia o rumo destas questões?


Estas imagens são do artista brasileiro Heleno Bernardi (http://www.theodorlindner.com/MasseterSuite_BR.htm), mais uma indicação da Tilda, a Renata Voss. Abaixo, coloco algumas informações sobre ele retiradas do link:

Foi a partir da observação dos chicletes nas calçadas das ruas do Rio que Heleno descobriu o material que usaria em sua obra. "Ele é mastigado, todo o seu aroma, cor e sabor são extraídos e depois é cuspido. Torna-se objeto rejeitado, mas ainda permanece presente, sedimentado ao chão das cidades. Ele se recusa a ser descartável. Além disso, como o chiclete é uma borracha, já foi fóssil. E sua trajetória, desde sair de dentro da Terra até voltar para a superfície tendo o homem como agente, cria um complexo jogo de associações, que me nteressa", observa o artista, que faz relações entre vida e morte no trabalho.
Chicletes mastigados, manuseados e esticados se misturando a partes do corpo como o crânio podem causar uma impressão de horror. Para a crítica Julia Brodauf, “a caveira de Bernardi é assustadora em sua dimensão, mas não chega a ser aterrorizante. As caveiras sempre ostentam um sorriso, e a desta foto também sorri, bem-humorada em seus tons de rosa. Ao seu lado será colocado um braço envolvido em uma luva de goma de mascar. Uma outra foto mostra a intensidade da vida, na força com que o chiclete é estirado. Não existe um mergulho melancólico na contemplação do tempo e da efemeridade. Bernardi associa a morte ao crescimento, e até mesmo ao viço, ao químico e ao indestrutível. Entretanto, a morte permanece, mascada, úmida e fibrosa: repugnante, mas de uma forma infantil e fascinante, que é muito engraçada”.
Sobre Heleno Bernardi:Heleno Bernardi, 37 anos, é mineiro de Ouro Fino. Vive e trabalha no Rio de Janeiro há 19 anos. Iniciou seus estudos de desenho e pintura em Ouro Fino. Em 1985 transferiu-se para o Rio de Janeiro onde estudou Arquitetura na Universidade Federal do Rio de Janeiro e cursou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre o final da década de 80 e o início da de 90.

Um comentário:

Davi Albuquerque disse...

Meu Deus, pensei que ia ouvir algo realmente interessante o produto. Acabei encontrando filosofia sobre chiclete. Larga as drogas cara.