Fico especulando que esta sensação estranha foi umas das forças gerativas desta pesquisa, que foi ela que me fez ter vontade de ir ver o mundo e de ser visto (ou não) do ‘lugar do Coruripe’, na calçada estreita em frente a catedral de Maceió, numa pequena ladeira.
Será que a ação surgiu por eu ter me conectado com este lugar de não existência, de vazio, de solidão exposta, que o corpo instalado daquele senhor me suscitou?
Não de uma forma consciente e premeditada, lembro que na época da ação não tinha esta clareza, fui atraído por algo nebuloso, por uma vontade obscura de ficar naquele lugar, sem a menor noção do que isto poderia gerar em mim ou nos outros. Era só algo que internamente me atraia. Mas hoje penso que foi neste espaço que eu e Coruripe nos encontramos; no espaço estranho da solidão compartilhada. Penso isto, pois lá, na rua, ao ver o mundo daquele lugar, esta sensação foi muito comum, mesmo continuando sendo estranha.
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Meu corpo produz sons estranhíssimos. Alguns só internamente, outros ganham o espaço.
Meus pensamentos também são estranhos. Mas meu corpo físico, no geral, eu acho comum; apesar de que, dependendo da distância em que se olha, tem partes estranhíssimas.
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Nos últimos anos em Maceió, a minha sensação de estranheza era grande e gerava um incomodo constante em graus variados de intensidade, e que se transformavam em reações também diversas. Hora de forma muito sutil, ora em cores muito fortes, o estranhamento e sua reverberação em meu corpo tanto era capaz de gerar uma paralisia e um desânimo quase absoluto, como me fazer produzir muito.
O “Não tenho palavras” é fruto deste estranhamento, principalmente em relação ao próprio teatro como linguagem e a função do diretor/encenador e da participação da plateia na construção do acontecimento. Não queria continuar conduzindo meus processos como fazia antes, mas não sabia ainda com clareza que nova postura adotar. Durante o “ntp” tentei descobrir que lugar é este.
Este gráfico de oscilação da afetação do estranhamento em meu corpo sempre varia sem nenhuma lógica aparente, a partir das relações momentâneas.
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