17 novembro 2007

você é estranho?

***Sim
Eu me acho, ou me sinto estranho já há algum tempo e o surgimento deste trabalho é uma problematização desta sensação, uma reflexão, entre outros aspectos, sobre estas minhas estranhezas em relação a mim mesmo e ao mundo que me envolve e transpassa. A sensação de estranhamento me afeta em situações variadas do meu cotidiano e através da ação dos mais diversos aspectos. Um dos mais fortes e importantes para este trabalho em processo é a sensação de solidão compartilhada, aquela que se sente mesmo cercado de pessoas. Esta é uma solidão estranha. Talvez o estranhamento surja do paradoxo evidenciado no jogo entre o que está fora e o que está dentro do corpo, sensações contrárias, imagens dissonantes. Dois espaços distintos se relacionando em uma contradição aparente. Forças em confronto ampliando as setas de afetação do acontecimento. Talvez.
Já passei por este tipo de situação diversas vezes em minha vida e sei que não sou o único, sei que muitos também se sentem estranhamente solitários no meio da multidão; seja ela de amigos, familiares ou desconhecidos.
Fico especulando que esta sensação estranha foi umas das forças gerativas desta pesquisa, que foi ela que me fez ter vontade de ir ver o mundo e de ser visto (ou não) do ‘lugar do Coruripe’, na calçada estreita em frente a catedral de Maceió, numa pequena ladeira.
Será que a ação surgiu por eu ter me conectado com este lugar de não existência, de vazio, de solidão exposta, que o corpo instalado daquele senhor me suscitou?
Não de uma forma consciente e premeditada, lembro que na época da ação não tinha esta clareza, fui atraído por algo nebuloso, por uma vontade obscura de ficar naquele lugar, sem a menor noção do que isto poderia gerar em mim ou nos outros. Era só algo que internamente me atraia. Mas hoje penso que foi neste espaço que eu e Coruripe nos encontramos; no espaço estranho da solidão compartilhada. Penso isto, pois lá, na rua, ao ver o mundo daquele lugar, esta sensação foi muito comum, mesmo continuando sendo estranha.

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Meu corpo produz sons estranhíssimos. Alguns só internamente, outros ganham o espaço.

Meus pensamentos também são estranhos. Mas meu corpo físico, no geral, eu acho comum; apesar de que, dependendo da distância em que se olha, tem partes estranhíssimas.

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Nos últimos anos em Maceió, a minha sensação de estranheza era grande e gerava um incomodo constante em graus variados de intensidade, e que se transformavam em reações também diversas. Hora de forma muito sutil, ora em cores muito fortes, o estranhamento e sua reverberação em meu corpo tanto era capaz de gerar uma paralisia e um desânimo quase absoluto, como me fazer produzir muito.
O “Não tenho palavras” é fruto deste estranhamento, principalmente em relação ao próprio teatro como linguagem e a função do diretor/encenador e da participação da plateia na construção do acontecimento. Não queria continuar conduzindo meus processos como fazia antes, mas não sabia ainda com clareza que nova postura adotar. Durante o “ntp” tentei descobrir que lugar é este.

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Este gráfico de oscilação da afetação do estranhamento em meu corpo sempre varia sem nenhuma lógica aparente, a partir das relações momentâneas.
*** texto em construção

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