outros estranhos:::::

Aqui na terra todos respira o mesmo ar, se alimenta igualmente, dorme igualmente, trabalha igualmente, então eu não vejo nada de anormal nem estranho, cada um no seu estágio de evolução, um estágio aleatório ao estado nacionalista, tudo vai evoluindo percebe para a frente e para o alto, eu não vejo nada de estranho. Tudo é novo e tudo é velho ao mesmo tempo que é ????

Meu nome é Jorge Carlos. Juliana. Bento. Vicente. José Aciolli Filho. Josefa Bernarda de Oliveira. Meu nome é Juliana. Elaine. Dejacir. Jonas Cícero. Luíse. Rita Rocha. Glauciene. Da Silva Cavalcanti. Taís. WashingtonLima. Cícero. Carolina Sofia Rosa. Luísa. Meu nome é Charlene. Robertson. Alan Souza Queiróz. Maria das Dores, só que só que o pessoal costuma me chamar de Mary. Naéliton. Tiago. Meu nome é Luís. Aninha. Wilson. Maria Cícera. Ana. Meu nome é Vera. Luciano.Valdir. Rogério. Fábio. Antônio Rocha. Pedrosa. Meu nome é Daílsa. Tiago. Tássia. Antônio Lopes.Sara.Tiago Souza. Carlos Henrique Melo de Lima. Glícia. Sílvia Werneck. Paulo. Paulo. Renato. Paulo Wellington. Meu nome é Robert José Leopoldino dos Santos.

Não dormi do dia 3 para o dia 4 de maio de 2005.Vai ser um longo dia. Um longo e chuvoso dia.

O que é estranho? O estranho no mundo O que é que eu acho que tem de estranho no mundo?O que tá estranho no mundo... O que ta estranho hoje? É... (Tempo) Não estou entendendo. Muita coisa! Estranho... O que é estranho... (Pensa) É... Num, num vem agora na cabeça uma coisa assim bem forte. (Pensa) O que eu acho estranho no mundo? Não sei nada específico agora. Hehehehe... O que tem de estranho no mundo? Ele! Estranho... Essa pergunta é, essa pergunta é terrível! Estranho... Estranho... Hoje em dia eu não estranho mais nada, né, que tem no mundo. Aí é o caso: o mundo é estranho!Tanta coisa que eu não sei nem dizer, não é? O dentro do mundo é que às vezes não enxerga o mundo como o mundo se enxerga. O próprio mundo, meu amigo! Ultimamente nada é estranho. Estranho é o que é normal, né, a gente já acha que é normal o que é mais estranho, né. Estranho é querer ser igual a todo mundo. Estranho, estranho é você acreditar num partido que é o partido da moralidade e ele fazer o que ta fazendo hoje, isso é que é estranho. Estranho, estranho é... A violência é estranha, ahahaha. O mundo hoje é muito estranho. Isso aqui é estranho (mostra pote de vidro). O dia-a-dia, né? Assim, é a situação de muitos tendo e outros não tendo, isso é o que eu acho mais estranho mesmo. Acho mais, acho estranho é... A pobreza mesmo, é a fome, que isso num pode acontecer, né. E o desemprego. E o desemprego. Trabalhador num trabáia, porque ninguém quer pagar. Estranho no mundo... O George Bush. O que é estranho... Eu não sei, acho que tem muita coisa absurda, mas estranha... Já são uma coisa tão normal, tão comum assim, né? A idéia que eles podem julgar uns aos outros. Isso é meio estranho. O normal é ser estranho, eu acho. Pra mim o que é estranho é o que eu não conheço. O estranhamento é um estranhamento até, digamos assim, é... Que se torna, é... Agradável. O que eu tenho de estranho... É ta desempregado. mais estranho mesmo no momento é a roubalheira (ri). Tem mais coisas é que eu não... Tô sem tempo de conversar agora. As maloquerage... Os mata, as mata, as matança, né? Os governo roubando... Tem várias coisas. Acho que mais estranho que tem no mundo é as bandidagem. As bandidagem ta demais. Uns ser... De outro planeta, né? Que uma pessoa senta perto de mim e me acha nojenta, pela minha cor, é muito estranho, é muito gritante, latente. É um escaravelho. Acho que é o preconceito. Acho isso muito estranho, acho que as pessoas tem que ter uma visão mais ampla sobre, sobre a sociedade. O que me estranhece neste mundo é saber que a fome mata mais que tudo, mais que AIDS, mais do que tudo. Rapaz, o que tem de estranho no mundo é que nós estamos vivendo no último dia de humanidade, cada um dos seres humanos diferente um do outro, as ira, cada um com ira diferente e cada um com a personalidade demoniada e não há prazer nem amor uns com os outros, as coisas cada dia mais piores nas situações de sobrevivência humana, do amor, né, dos seres humanos... É da família dos escarabeídeos. O mundo é que ta estranho. Olha, no mundo eu acho que nada, na realidade, não é estranho. Estranho... Pode ser eu, pode ser você, pode ser todo mundo. Estranho pode ser uma forma de comportamento padrão, padronizada. É uma coisa estranha, né? (Ri) O mundo. Ou eu nele, né? (Ri) Eu acho que tudo que eu achar estranho é culpa minha. o comum... É neutro, não tem comum. Estranhar as coisas é o principal elemento de, do conhecimento. Estranhá-las, investigá-las, buscá-las, conhecê-las, olha só (mostra o bebê): estranhou. Quer pegar, quer tocar, quer investigar...Ah, eu não consigo achar mais nada estranho, não, hoje. Por mais estranho que o mundo seja, você depende de um mundo estranho. É difícil mesmo! Falando do Estranho, que foi o personagem que você construiu, né, a miséria me incomoda, muito. Mas não é estranho. É muito presente na vida da gente a miséria. Eu gosto muito da performance porque ela se aproxima das pessoas, né, inclusive até as vezes com o contato físico, acho que isso é muito bacana na performance, né, e ela fala uma linguagem que é a linguagem do dia-a-dia, do cotidiano, e é uma linguagem de hoje, atual, eu gosto muito disso. Eu gosto muito também da possibilidade de você usar tudo, você pode colocar tudo que você quiser dentro de uma performance. Essa mistura também das linguagens outras, não é, que até existe também no teatro, mas que na performance se torna mais evidente. No mundo contemporâneo tudo acontece ao mesmo tempo e as coisas vão se interpenetrando, se entrecruzando, não é, e aí, é óbvio, as coisas vão e voltam e tem uma nova roupagem e aí essa questão da academia, né, a gente conceitua, são os conceitos, não, que que é performance, que que é isso, que que é aquilo, e aí você vai construindo. O Estranho, é, me parece que foge um pouco também do conceito de performance, por que, porque ele se aproxima muito muito muito da vida de uma pessoa, mas da vida de uma pessoa que está lá naquelas condições, né, porque você não vai pra um palco, você vai pra rua, vai pra sarjeta, que é o lugar onde aquele, aquela pessoa vive. Começa a acontecer uma interpenetração muito grande entre a vida e a arte.

Quem é estranho? Estranho. O Caetano fazendo coisa errada é uma pessoa estranha, né? Porque cada um tem que ter sua maneira e pensar e cada um tem o livre-arbítrio de fazer o que quer. Eu vejo algumas pessoas estranhas...Eu acho as pessoas que são estranhas são as pessoas que mentem, que dissimulam, as pessoas que não, não assumem o que elas realmente são eu acho que são pessoas estranhas, as pessoas não-verdadeiras. As pessoas que se acham normais. Sei lá acho que depende. Você é super estranho, cara! É difícil eu achar uma pessoa estranha. Esse cara aí que ta do meu lado. As pessoas que olham estranho, é aquele olhar que não te olha. O bicho mais diferente que tem em cima da terra. Bem, eu acho super estranho as pessoas crentes, eu sou preconceituosa com quem é crente (ri). A maioria das pessoas não lêem e não ouvem boa música. A pessoa não compreender a si próprio, é duro e difícil isso. Ele é um cara muito diferente, sabe, eu olho pra outro cara assim, eu digo poxa... De certo que esse cara jogaram ele de lá, de lá de outro planeta assim, ele é extremamente diferente, assim, muito estranho, muito estranho. Estranho é o povo do mundo que são, tem uns que é meio estranho, mas... pra mim todo dia é alegria. Depende de como você enxerga o estranho. Rapaz, olha, como já dizia nosso amigo Caetano: de perto ninguém é normal, né, então, por aí. Eu acho que a arte exatamente ela passou, ela passa a ser na, nessa existência, a manifestação dessa vida, desse sentido de vida no meio desse caos que o ser humano criou, pra conseguir, né, pra conseguir se fazer sobreviver o que há e vivo mesmo dentro da, dessa sociedade que é meio, meio massificante, matante, vamos dizer assim, né, letal. Parece, a arte, parece que ela quer encontrar de volta a vida, eu acho que pra mim pelo menos é muito claro e na medida que eu estudo eu também tenho essa sensação. Depois de tantas, de tantas investidas que a arte fez ela vai, ela vai evoluindo, né, se a gente pode chamar isso de evolução, mas ela vai evoluindo pra essa questão da, desse trabalho mais performático mesmo que eu acho que é o caminho que isso vai sendo obrigado a ter, menos do objeto artístico, mais do, da personalidade do performer, ta preocupado com uma questão social e essa questão social é exatamente reflexo dessa disparidade de conceituação da, entre a sociedade e o ser humano também. Que a gente às vezes tem medo da negação social, né, medo do confronto real e social, ele tá se dispondo a ser um ícone de negação e hora que ele se dispõe a ser um ícone de negação ele passa a ser culpabilizado, ele passa a ser responsabilizado, então esse medo também permeia a ação cênica. A gente precisa ver essa sociedade com olhos de quem, de não-massificado. Toda a sua ação, no sentido humano, ela precisa ser muito, muito delicada, muito muito repensada, muito muito mastigada antes dela ser executada. Então essa mastigação dessa sensação nem sempre é possível num temperamento, num momento de um temperamento explosivo, num momento de um temperamento intempestivo, por exemplo. Quando você deixa a ação subentendida você realmente não faz uma ação, é...direta contra, mas se coloca de uma certa forma em favor da vida, eu acho que a palavra ela tem essa coisa direta e ambígua, né, ela pode dar um sentido ambíguo, ela pode deixar você numa situação embaraçosa, e quando você age em processo de dança aí a sua ação ela se torna simbólica pra você mesmo, o que por outro lado distancia quem ta assistindo do que aquilo realmente pode significar, e exige muito mais clareza até do que cada ação pode significar, acho que por isso que acaba tendo, a performance passou a ter uma significação muito grande na construção da arte no final do século vinte por conta disso mesmo, porque ao invés de você ficar mastigando, mastigando, mastigando, impedindo uma ação criativa de acontecer, você vai logo pra cabeça e não se importa muito se aquilo ta mastigado, se vai ser entendido, se não vai ser entendido, a ação precisa acontecer porque você precisa da ação, então você vai e executa e depois você vai pensar no que aquilo realmente projetou de coisa positiva ou negativa, inclusive pra você que fez ou pra sociedade inteira.

Você é estranho? Atualmente eu não em acho estranho porque eu tenho um Deus, e esse Deus ele, eu alimento espiritualmente uma esperança melhor brevemente, que brevemente tudo isso vai passar, nóis num sabe quando... Êêê, aí complica! Eu tenho cabeça, eu tenho dois olhos, eu tenho, eu tenho duas mãos então não me vejo como uma pessoa estranha. Não é nem estranho, eu acho que tem muita gente com isso, mas eu sou muito... Cheia de neuras. Não, eu me acho uma pessoa normal. Por isso que eu sou estranho, porque eu sou normal. Ih, eu, eu sou, num sei, acho que eu sou... Sei lá... Quem me acha estranho... É porque não me conhece. Eu não. É o povo, porque ninguém respeita mais ninguém, não é? Estranho...Num sô contraditório, mas num acho que tem nada de estranho não. Eu sou um estranho. (??) com tudo aí... Sempre ta um pouco estranho, né? Pra mim eu sou estranha. Eu to meio estranho porque tomei essa pancada aqui (mostra). Isso aqui foi a Joselita porque eu não dei um pedaço de maçã. Eu me sinto muito inadaptada. Estranho. Eu não quero me sentir estranho mas quando as pessoas me sentem estranho eu me sinto estranho. Eu me acho até muito igual. Me acho uma pessoa completamente estranha. Estranha no ninho e estranha no mundo. Eu não me acho estranho, mas eu acho que tem gente que acha. Estranho como um alienígena, como um marciano que desce na terra.Tava sem emprego aí ficava tudo estranho, né? Eu gosto quando as pessoas me acham estranho. Rapaz, eu não me acho estranho não. Eu me acho uma pessoa muito estranha. Me sinto uma pessoa estranha às vezes. Porque eu não sei ainda onde eu piso. Eu não consigo administrar o que está dentro com o que está fora, eu acho que há um conflito aí com o que está aqui por fora e o que ta aqui dentro que causa muita estranheza.

A partir da transcrição feita pela amiga performer Thaíse Nardin do vídeo documentário dirigido por Glauber Xavier, sobre a performance Estranho - um cara comum que iniciou esta pesquisa. As imagens foram feitas por mim em Londres, São Paulo e Barão Geraldo.