25 abril 2009

sobre a coragem coletiva em ação;

Hoje resolvi postar um pequeno texto que recebi por email da atriz-performer e responsável pelo treinamento do projeto Hotel Medea Persis Jade Maravalla, ou jpm, como ela mesma assina o texto. 

No texto Jade reflete suncitamente sobre a experiência da primeira temporada do projeto, em janeiro de 2009, em Londres. Ela coloca a jornada de seis horas, no mínimo, de encontro por noite entre artistas e platéia como uma atitude contra o 'medo e resignação' que pode abater aos artistas, e, claro, a qualquer um. Vejo muito sentido nestas palavras; ler isso, para mim que faço parte como ator do projeto, é atualizar a importância desta atitude. Não ter medo e não se resignar. Ou ainda, não ter medo de ter medo e não resignar. 

Em palavras, estas colocações podem até se aproximar de qualquer texto de 'auto-ajuda'. Mas nas pequenas ações cotidianas de um processo de criação, seja ele qual for, esta atitude contra o mede e a resignação está no limite 'entre' tudo o que podemos ou não fazer. É uma questão de agir, sempre. Em todos os detalhes, a cada decisão tomada, a cada olhar, cada silêncio, descoberta, dúvida, conquista ou frustação. E me parece mesmo que há espalhada pelo dia a dia muitas forças que tentam nos impedir de agir; é necessário buscar um estado constante de alerta contra isso, é necessário criar, como no caso da proposta de Hotel Medea, possibilidades de 'resistencias conscientes' contra 'sistemas de poder' e 'estruturas institucionalizadas de arte'.


segue o texto:

Hola, 


Em meio a um dos mais rigorosos invernos que Londres já viu e no início de uma grave crise econômica, Hotel Medea, uma produção noturna de 6 horas de duração inspirada no mito de Medéia, apresentou-se 9 noites com ingressos esgotados. Foi uma das experiências teatrais mais interessantes que já me envolvi.

Hotel Medea é um convite real para reavaliar e reorganizar o que o teatro na Inglaterra pode parecer hoje em dia. Neste período de depressão econômica nós consideramos um sucesso ter criado um agitador exemplo de como uma descentralizada, contundente pequena estrutura pode fazer uma resistência consciente não somente para as estruturas institucionalizadas de arte, mas também para grandes sistemas de poder que insistem em criar medo e resignação entre os artistas.

Nossa intenção foi experienciar um tipo diferente de contrato com a platéia, a qual toma parte do desafio de manter-se acordada durante toda a noite, fazendo um sacrifício, se arriscando e desafiando a ordinária cultura do teatro. Nós – atores e espectadores – redefinimos teatro como um experimento dentro de uma experiência o mais verdadeira possível. Após triunfantemente atravessar a noite atores e espectadores tomam café da manhã juntos. Sem dúvida, este momento, no cinzento amanhecer, acontece pra mim o mais significativo contato direto com a platéia.

No resultante debate de mídia que rodeou o nosso show, ficamos estagnados com a profundidade do real entendimento de pessoas como Paul Cox, e o que ele demonstrou em sua crítica. Outros críticos ficaram divididos sobre Hotel Medea. Alguns clamaram como “brilhante” e outros acharam “arty” e confuso. Todas essas opiniões podem ser amarradas dentro de um debate sobre Hotel Medea como apresentação teatral. A mais inquietante questão surge quando críticos sugerem que falhamos ao apresentar uma nova adaptação de Medéia de Eurípedes, (uma suposição simplista de que estávamos apresentando esta peça) ao invés de examinar nossa relação de transformação com o mito. Evidentemente cabe a nós rever nossa mitologia e fazer-la falar em novas condições e contar nossas histórias diferentemente no lugar de trazer à tona suas eternas verdades.

Só me resta falar que nós desejamos continuar nesta direção filosófica para uma verdadeira experiência conectiva entre teatro e platéia. Nós convidamos qualquer pessoa interessada em qualquer aspecto para juntar-se a nós nessa jornada. Eu quero agradecer ao grupo por sua dedicação e à platéia por sua confiança e esperança que vamos continuar a apoiar cada um em viver com intensidade, risco e sinceridade.

com respeito e bons desejos
jpm 


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