15 abril 2008

Estranho pelo outro: Glauber Xavier

impulsos interpretativos - registro escrito


- está levando algum documento de identificação?

- eu não, se eu sumir eu me identifico.


do presente, do agora ou do gerúndio

travessa godofredo ferro, centro atrás da igreja Nossa Senhora do Carmo do riacho salgadinho


psiu! estranho ser acordado por ele,

que instintivamente, descuidadamente e/ou naturalmente,apenas


após este sorrateiro psiu e mais um gesto

e uma fisionomia positiva


abre em dois tempos - bem limpos – este meu dia onde o simples abrir dos olhos torna-se como o mais impressionante abrir de todas as cortinas que despertam nossos sentidos em amplitude total, pois o estranho é - real posto num risco total.


em dois ou três segundos ele sutilmente executa um terceiro tempo, uma saída invisível que indubitávelmente me fez lembrar das lições de yoshi oida em seu ator invisível e errante.


corri. agora cada instante das próximas doze horas é de profunda intersecção sobre a realidade social em que este performer errante adentra, causando suas interferências em imprevisíveis níveis de relação com o meio urbano – espaço social e espiritual - a rua


lá vai ele – agora ampliando propositadamente,

o incontrolável reside no imprevisível que está vivo e a deriva

desgovernado?


o controle é de uma gama de autonomias infinitamente indefinidas e diversas (lei da relatividade)

mesmo sem crença – que deus lhe acompanhe


não vou te seguir

o risco é real


uma sirene de viatura policial soou distante, como que na mesma distância que te encontras agora, talvez a um minuto de caminhada daqui


a responsabilidade está, por hora, sobre o estranho

imagem visual de verossimilhança extra aristotélica


não é só verossimilhança – é de verdade

até que precises lançar mão de flávio rabelo para saíres do perigo – no último instante – caso este decida. se não, estarás de vez lançado a loucura.

como ritual diário


e ainda sem fé, repito – deus esteja com você, enquanto artaud o provoca cochichando ao pé do ouvido do maestro (maestro: flávio – orquestra: estranho):


deixe-o

solte a batuta

será melhor assim


(escrevi este texto buscando respeitar meus impulsos imediatos sobre o que presencie, sem maneirismos nem pudor: o momento em que “estranho, um cara comum” saía de casa indo em direção do riacho salgadinho, num dia chuvoso e peculiar.)



Glauber Xavier

04 de abril de 2005 às 5:50h

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