impulsos interpretativos - registro escrito
- está levando algum documento de identificação?
- eu não, se eu sumir eu me identifico.
do presente, do agora ou do gerúndio
travessa godofredo ferro, centro atrás da igreja Nossa Senhora do Carmo do riacho salgadinho
– psiu! estranho ser acordado por ele,
que instintivamente, descuidadamente e/ou naturalmente,apenas
após este sorrateiro psiu e mais um gesto
e uma fisionomia positiva
abre em dois tempos - bem limpos – este meu dia onde o simples abrir dos olhos torna-se como o mais impressionante abrir de todas as cortinas que despertam nossos sentidos em amplitude total, pois o estranho é - real posto num risco total.
em dois ou três segundos ele sutilmente executa um terceiro tempo, uma saída invisível que indubitávelmente me fez lembrar das lições de yoshi oida em seu ator invisível e errante.
corri. agora cada instante das próximas doze horas é de profunda intersecção sobre a realidade social em que este performer errante adentra, causando suas interferências em imprevisíveis níveis de relação com o meio urbano – espaço social e espiritual - a rua
lá vai ele – agora ampliando propositadamente,
o incontrolável reside no imprevisível que está vivo e a deriva
desgovernado?
o controle é de uma gama de autonomias infinitamente indefinidas e diversas (lei da relatividade)
mesmo sem crença – que deus lhe acompanhe
não vou te seguir
o risco é real
uma sirene de viatura policial soou distante, como que na mesma distância que te encontras agora, talvez a um minuto de caminhada daqui
a responsabilidade está, por hora, sobre o estranho
imagem visual de verossimilhança extra aristotélica
não é só verossimilhança – é de verdade
até que precises lançar mão de flávio rabelo para saíres do perigo – no último instante – caso este decida. se não, estarás de vez lançado a loucura.
como ritual diário
e ainda sem fé, repito – deus esteja com você, enquanto artaud o provoca cochichando ao pé do ouvido do maestro (maestro: flávio – orquestra: estranho):
– deixe-o
– solte a batuta
– será melhor assim
(escrevi este texto buscando respeitar meus impulsos imediatos sobre o que presencie, sem maneirismos nem pudor: o momento em que “estranho, um cara comum” saía de casa indo em direção do riacho salgadinho, num dia chuvoso e peculiar.)
Glauber Xavier
04 de abril de 2005 às 5:50h
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